O Bairro de Laranjeiras, juntamente com os da Glória, Catete, Flamengo e Cosme Velho, faz parte da bacia hidrográfica do rio Carioca – antiga e importante região da cidade do Rio de Janeiro conhecida como “terras da Carioca”.
Os Bairros de Laranjeiras e do Cosme Velho, se desenvolveram às margens do Rio Carioca, desde 1567, quando as terras da região foram doadas em sesmaria aos membros da família paulista do patriarca Cristóvão Monteiro, que abriram roças, edificaram casas e até um moinho de vento para beneficiamento dos cereais colhidos em suas plantações.
No século XVII teve início a captação das águas do Rio para abastecimento da cidade e no século XX, o Rio foi coberto, restando dele alguns trechos a céu aberto, como podemos ver no Largo do Boticário. A importância do Rio Carioca foi fundamental, como fonte abastecedora de água potável para o Rio de Janeiro e aos poucos foram surgindo na região chácaras rústicas e luxuosas ocupadas por fidalgos e homens ricos e movidas a trabalho escravo.
Mas foi em 1880 que a região sofreu grande transformação com a Companhia de Fiações e Tecidos Aliança se instalando na Rua General Glicério, fazendo surgir os primeiros comerciantes. A Fábrica funcionou até 1938 e fez aparecer no Bairro as primeiras vilas operárias. Os bondes elétricos foram instalados pela Companhia Jardim Botânico e íam até ao local conhecido como a Bica da Rainha no Cosme Velho que tinha este nome porque era freqüentada pela Rainha D. Maria I e sua nora D. Carlota Joaquina.
Quando a Fábrica foi fechada, seus operários foram procurar trabalho nos subúrbios e a região começou a elitizar-se. Mesmo tendo se transformado em uma área de passagem, com a abertura do Túnel Rebouças, em 1965, o Cosme Velho ainda resiste à urbanização e o bairro de Laranjeiras, no entanto se transformou em um importante elo de ligação entre a Zona Norte e Sul, com a abertura do Túnel Santa Bárbara, em 1961, apresentando uma elitização e uma visível divisão social.
O nome “Laranjeiras” aparece nos documentos desse século, e o mais antigo que encontramos data de 1780.
Maria Graham, inglesa que esteve no Rio de Janeiro em 1821, foi quem criou a versão de que o nome “Laranjeiras” decorria do fato de existirem no local extensos laranjais. É uma versão muito repetida pelos historiadores, mas que não tem fundamento, principalmente porque, no ano em que ela aqui esteve, havia na região, muito mais pé de café do que laranjeiras. Além disso, o nome “Laranjeiras” foi usado desde o século XVI para apelidar até mesmo uma praia sem nenhum pé de laranja, perto de Parati. Em Lisboa há um bairro chamado Laranjeiras devido a uma antiga quinta com este nome. Isso muito antes de nosso bairro se denominar Laranjeiras. Como o bairro lisboeta também era, em sua origem, região de chácaras próximas do centro da cidade, pensamos que pode existir aí alguma relação com o batismo do nosso.
As regiões da Glória e do Catete foram as primeiras a se adensarem urbanisticamente em decorrência da subdivisão das antigas chácaras, às vezes em lotes de pequenas larguras de frente, neles sendo construídas casas modestas, acessíveis a uma população menos abastada. Iniciava-se a mudança de enfoque pelo proprietário da terra, passando do uso agrícola para a construção de edificações. O mesmo não ocorreu simultaneamente com as chácaras de Laranjeiras, que mantiveram suas dimensões primitivas. Embora muitas casas tenham sido construídas nessas chácaras, os proprietários as tinham para aluguel, sem delas desvincular o terreno.
Em contrapartida ao desenvolvimento da região, ocorreu a poluição do rio Carioca ao longo do trecho abaixo da “Caixa d’Água da Carioca”, do alto do Cosme Velho até a Praia do Flamengo. O rio, além de tornar-se depósito de imundices, transformou-se em uma imensa lavanderia. Com o desmatamento das margens do rio e das encostas dos morros, começaram os desabamentos das bordas do Carioca, chegando a tornar intransitável em muitos trechos a Estrada das Laranjeiras. Tornou-se contrastante o aspecto agradável das bem-cuidadas propriedades particulares e a esburacada Estrada das Laranjeiras e o poluído rio Carioca. Apesar desse contraste, o bairro ainda era considerado um dos mais belos arrabaldes da cidade.
No final do século XVIII, o território das Laranjeiras (que abrangia o bairro do Cosme Velho) encontrava-se dividido em 17 chácaras, cujos proprietários eram pessoas importantes da sociedade carioca. Entre eles, o tenente-coronel Manuel Ribeiro Guimarães, o comerciante e capitão Antônio José da Silva, o cônego José de Souza Azevedo Pizarro, o capitão José Antônio da Fonseca Lima, João Pinto Gonçalves, o padre José Pires dos Santos (no alto do Cosme Velho) todos com chácaras do lado esquerdo do rio. Do lado oposto, a primeira propriedade (no atual Largo do Machado) era dos herdeiros do comerciante Caetano da Costa Coelho; em seguida, Joaquim José Xavier da Silva (este tinha também a chácara do outro lado e em frente), capitão Antônio Pereira de Lima Velasco, André Simões de Lima, José da Silveira Gulart, Manoel da Cunha Neves (chácara que foi de Cosme Velho Pereira) e, por fim, João da Costa Freitas.
O Cosme Velho e Laranjeiras ainda guardam o charme dos bairros marcados pelo passado, que foi endereço de condes, escritores, compositores e muitas pessoas ilustres, como: Machado de Assis, Villa-Lobos, Oscar Niemeyer, cujo avô, que foi Ministro do Supremo Tribunal Federal, deu nome a uma Rua do Bairro, a hoje denominada Rua Ribeiro de Almeida. A região possui muitos colégios tradicionais e é a sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
O Instituto Nacional de Educação de Surdos, fica localizado na Rua das Laranjeiras, em uma construção palaciana de Estilo Renascentista francês, com imponente cobertura abobadada em escamas metálicas. Em cada lado do bloco central, excepcionalmente bem composto se localizam duas alas de fachada com inspiração clássica arrematadas de corpos laterais um pouco mais elevados. A planta francesa se desenvolve em torno de pátios internos.
No Cosme Velho fica localizada a Estação da Estrada de Ferro Corcovado, onde se pega o trem que vai até o alto do morro. Foi a primeira estada de ferro construída no Brasil para fins turísticos, com concessão dada a Pereira Passos. Seu trecho inicial até a Paineiras foi inaugurado em 1884, no ano seguinte foi estendida até o Corcovado.
Solar dos Abacaxis, palacete em Estilo Néo-Clássico, erguido em 1850, pelo arquiteto José Maria Jacinto Rebelo, possuindo nas sacadas uma decoração com abacaxis. Foi residência do historiador Marcos Carneiro de Mendonça.
Mapa de Laranjeiras
Mapa do Cosme Velho
Muito gostoso de ler. Parabéns. Jorge Eduardo Garcia.